quarta-feira, 2 de julho de 2014

Vidas secas



Vidas secas, Graciliano Ramos, 120° Edição, Editora Record, 2013, Ebook, 217 páginas

O romance mesmo só vai até a página 152, depois vem um posfácio (de Hermenegildo Bastos) e informações sobre vida e obra do autor.

Este é um título que há muito tempo eu queria ter lido, mas só agora pudemos nos encontrar. De certa forma eu já sabia que se tratava de uma história de retirantes, que se tratava de injustiças, descasos, da visão crítica de um universo duro tão familiar a quem veio daquela região ou próximo, como eu. 

A leitura deste texto, antes de qualquer coisa, proporcionou-me uma viagem muito realista a lugares e costumes sertanejos, a recordar várias coisas, principalmente a existência de problemas que ainda hoje, e diante de tanta tecnologia e 'desenvolvimento', seguem iguais ao retratado no livro, muito provavelmente por falta de verdadeira boa-vontade política: a falta de estudo da população, o problema da seca, o ter de deixar a própria terra por falta de oportunidades, o passar a vida inteira sendo explorado e cuidando de coisas alheias, a falta de dignidade: 


“(...) ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. (...), e consumira a existência em submissão, (...), quem é do chão não se trepa. (...) Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? (...) O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou.”

Pois é, Fabiano, “quem é do chão não se trepa.” Mas, será verdade? Deixa eu te dar uma cartilha, Fabiano, deixa eu te ensinar a ler, a fazer contas, a ver que os ricos sem o teu trabalho não podem viver e tu verás a tua força, e subirás aos céus, ainda que seja morto, mas serás um homem consciente do que és. Pois como tu mesmo pensaste: “Sinha Terta é que se explicava como gente de rua. Muito bom uma criatura ser assim, ter recurso para se defender. Ele não tinha. Se tivesse, não viveria naquele estado.” Eu também acho que é assim...

Eu li esse livro num fluxo, para relaxar da leitura de um outro, e ao terminá-lo já havia me decidido a buscar outro livro de Graciliano. Na minha humilde opinião de leitora, se um livro leva à leitura de outros, essa é a melhor propaganda de si que ele pode fazer e por aqui paro. Leia sim, não arde, e pode deixar sua visão de mundo um pouco menos egoísta.

Avaliação: Ótimo!




© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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