quinta-feira, 27 de março de 2014

As Mulheres do Meu Pai



As Mulheres do Meu Pai, José Eduardo Agualusa. Série Geral, 348 páginas.


Deste autor eu já havia lido Teoria Geral do Esquecimento, livro que, a meu ver, tem uma prosa muito mais cativante e só não me ganhou completamente por um pequeno detalhe, que mesmo usando de toda a minha força de vontade e fantasia não pude me deixar convencer, a pergunta permanece e isso incomodou. Ah, quem sabe seja esse um ponto muito positivo, lembremo-nos do enigma de Capitu! Sim, interessante que esse 'incômodo' não me ocorreu ainda com textos de Mia Couto ou de García Márquez, que podem me contar os maiores absurdos com a letra mais lavada do mundo real-fantástico e eu nem sonho em duvidar, creio em tudo o que leio, juro de pés juntos que aquilo não é ficção, que aconteceu mesmo, convencimento total mas... Talvez tenha sido exatamente este o efeito que quis causar o autor de Teoria, pois Agualusa declarou certa vez,  numa entrevista ao programa Sempre um Papo, que sua escrita é pensada para incomodar, questionar e que se alguém buscava a verdade não deveria buscá-la em seus livros, não seria o lugar mais adequado para tal. Eu estava buscando a verdade fictícia, e foi essa danada que não me convenceu. Mas ele está certo, eu chegaria à mesma conclusão: a  verdade se busca nos livros de História (crê mesmo que está lá?), porém muitas vezes damos com ela nas entrelinhas de textos literários, que não têm de ter com a dona verdade qualquer lio, compromisso algum. Também não vejo como falar do tal detalhe sem revelar coisas importantes sobre a trama, então prefiro que cada leitor leia primeiro este livro e tenha suas próprias impressões.


As Mulheres do Meu Pai tem uma narrativa interessante e fluída, mas não com tanto brilho. O que eu não gostei foi a constante troca de perspectivas, muitos narradores em primeira pessoa, que ao final acabam se revelando mas que podem tornar a leitura um tanto confusa em alguns pontos. Talvez tenha sido exatamente essa a proposta, portanto...

O que eu mais gostei neste livro foi o passeio pela África, real ou imaginária, através dos olhos dos narradores. Só por isso já vale a pena ler. Reproduzo aqui a sinopse da contra-capa da minha edição, clique na imagem para vê-la melhor.



Esta edição foi um presente recebido com muita alegria, agradeço de todo o coração a quem me o enviou.

Algumas das passagens que mais gostei:

Sobre crenças:

"Tenho acreditado em coisas extraordinárias. Olhe, por exemplo, fui comunista." Página 289.

Sobre sonhos:

"A vida não é menos incoerente do que os sonhos; é apenas mais insistente." Página 265.

Esta aqui tocou-me sobremaneira, pois sonhadora sou:

"São tempos difíceis estes nossos tempos, tempos difíceis para os sonhadores". Página 335.

Uma que cai muito bem ao que penso sobre sonhos, amadurecimento, literatura, beleza e arte:

" (...), também os sonhos não resistem à ferrugem. Entretanto envelheci. Compreendi o óbvio. A verdadeira beleza não se pode aprisionar, não se repete, e não se prevê. Um arco-íris será belo enquanto permanecer indomável." Página 336.

E a frase que fecha o romance, claro, mas esta guardo só para mim. Vale a pena ler este livro.



Avaliação: Bom+ (de Bom para Muito Bom)


© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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